Suprimentos, a alma do canteiro de obras
“A má gestão da cadeia de suprimentos resulta no atraso da obra, no aumento dos custos, no desagrado por parte do cliente e, por fim, na falta de condições para sobrevivência da própria construtora”. A afirmação do engenheiro Orlando Celso Longo, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, resume o valor que as empresas do setor devem dedicar a um sistema de logística de suprimentos organizado e eficiente. O investimento trará o crescimento do sistema de gestão, que tende a tornar a empresa cada vez mais competitiva, com uma imagem profissional e ambientalmente responsável no mercado, já que haverá redução dos resíduos gerados na obra.
“É preciso, também, levar em conta os sistemas de parceria com fornecedores para otimizar níveis de estoque por meio da integração de interesses entre a indústria da construção civil e as construtoras”, recomenda o professor. Quando a construtora se preocupa com a eficiência do setor de compras, é natural o desenvolvimento de parcerias com fornecedores qualificados, e não apenas associadas à ideia de preço. É preciso que os parceiros de uma cadeia logística de suprimentos levem em conta as condições negociadas de crescimento mútuo para racionalizar a obra. “Por outro lado, tendo em vista o desafio à implantação da Logística Reversa, prevista pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a parceria com os fornecedores há de encontrar meios para amenizar os futuros conflitos decorrentes da sujeição aos termos da lei, com os quais, de algum modo, estarão envolvidos na busca de preservação do meio ambiente, ainda que por força legal”, alerta.
Longo entende que, tradicionalmente, as empresas de construção civil não deram importância ao canteiro de obras, pois os gestores sempre estiveram mais preocupados com os aspectos técnicos e financeiros do projeto. “Eles não estavam tão envolvidos com os custos relativos aos desperdícios decorrentes de retrabalho, nem davam o devido valor para a gestão técnica do fluxo de suprimentos”, diz. Hoje, os empresários têm consciência de que precisam ser mais proativos para que permaneçam em um mercado altamente competitivo. Para tanto, a gestão da cadeia de suprimentos deve ter o mesmo nível de importância que é atribuído aos aspectos técnicos e estruturais. “A gestão de logística pouco estruturada no suprimento de materiais e serviços é, hoje, reconhecida como uma das principais causas da falta de produtividade das empresas que, consequentemente, deixam de ter maiores ganhos”, complementa.
Segundo Orlando Celso Longo, na falta de conhecimento do conceito de logística moderna, as empresas mal organizadas operam com estruturas de fluxo de materiais e serviços inadequados para a atualidade. “Já nas construtoras mais desenvolvidas, que implementam noções de logística, todos os produtos e serviços funcionam bem e de forma integrada. Elas registram ganho de tempo na execução das obras, o que é um dos gargalos da construção civil”, comenta.
As empresas que se posicionaram dessa forma, principalmente a partir da década de 90, também entenderam que a logística deve ter vida própria, com gestor específico, porém, deve ser integrada à área de engenharia responsável pelos aspectos técnico-estruturais. “Assim, a parte técnico-operacional deve ser desmembrada para a parte logístico-operacional, ocorrendo tanto a gerência técnica como a gerência de suprimentos”, explica Longo. Modelos logísticos como a pré-industrialização e a construção seca (drywall), lajes treliçadas, alvenaria estrutural e pré-moldados fizeram com que o suprimento de materiais introduzisse uma nova concepção de movimentação de cargas e, consequentemente, a utilização de equipamentos apropriados a cada situação.
FERRAMENTAS
Para que as empresas atinjam os objetivos e níveis de serviços adequados, a logística identifica atividades que são de importância primária: planejar, programar e controlar, de maneira eficiente, o fluxo de materiais utilizados e a armazenagem de produtos, bens, serviços e informações do processamento dos pedidos, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de aplicação. “Nas empresas evoluídas em termos do fluxo de suprimentos, há uma integração entre o canteiro de obras e a rede de fornecedores de insumos, através da implementação do sistema EDI (Exchange Data Information) ou troca eletrônica de dados, e do VMI (Vendor Managed Inventory) ou Estoque Gerenciado pelo Fornecedor, quando os fornecedores em parceria com a obra repõem de forma contínua o estoque do canteiro, baseados em informações eletrônicas”, ensina Longo.
“Atualmente, novas pressões estão mudando as definições e estruturas utilizadas pelas empresas. Estas pressões incluem a duplicação de estoque, a incompatibilidade das estruturas e a limitada capacidade de reação individual às mudanças gerais de suprimentos. As novas definições são significativamente diferentes daquelas que determinam as antigas atividades relacionadas ao fluxo físico”, afirma o engenheiro, acrescentando que “ferramentas conceituais e gerenciais, agora aplicáveis à gestão da distribuição física, fornecem interessantes soluções”. Longo se refere ao ciclo como PDCA (Plan-Do-Chek-Action), ou, Planejamento, Organização, Direção e Controle que representa a melhoria continuada.
“A logística aplicada à construção civil é considerada como um processo multidisciplinar aplicado a uma determinada obra, que visa garantir o abastecimento, a armazenagem, o processamento e a disponibilização dos recursos materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes de produção e a gestão dos fluxos físicos de produção. Os empresários da construção civil devem se valer da tecnologia da informação para serem ágeis nas decisões que dizem respeito às atividades de transporte e armazenamento de carga no canteiro de obras”, finaliza.
Por Orlando Celso Longo – engenheiro civil e doutor em Engenharia Civil; professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense – PPGEC – EE – UFF.