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Quando terceirizar ou manter equipes próprias na construção?

Pense em uma empresa de pequeno porte, que atua na área de edificações e trabalha com poucas obras simultâneas. É possível manter equipes próprias sem frentes de trabalho suficientes para manter o pessoal ocupado durante todo o ano?

subcontratação reduz a rotatividade dos operários e evita a dispensa de trabalhadores após o término dos empreendimentos ou de etapas específicas das obras, permitindo que empresas especializadas atendam diversas construtoras.

“No caso de construtoras com volume elevado de obras, é possível manter continuidade e alocar as equipes”, afirma Jorge Batlouni Neto, sócio-diretor da Tecnum Construtora e vice-presidente do SindusCon-SP. “Para as médias e pequenas, o melhor caminho é procurar desenvolver subempreiteiros, estabelecendo uma relação de parceria ao longo do tempo.”

Os encargos e os riscos trabalhistas existentes no Brasil contribuem para tornar a terceirização atraente do ponto de vista financeiro. Importante ressaltar, entretanto, que nada justifica qualquer prática relacionada à informalidade, que deve ser combatida tanto pelo Poder Público quanto pelo próprio setor, para o bem da concorrência leal e da imagem das construtoras perante a sociedade.

No mundo formal e legalizado – aquele que nos compete tratar aqui – o tema da subcontratação é estratégico e relevante para a saúde financeira das empresas. Decisões equivocadas nessa área costumam ser letais para os resultados dos empreendimentos e das construtoras.

“É preciso conhecer em profundidade cada subempreiteiro e o negócio dele”, afirma o professor Francisco Ferreira Cardoso, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Os ganhos das construtoras costumam vir, em boa parte, da área de suprimentos. Não dá para contratar mal.”

1) O QUE NÃO TERCEIRIZAR?

Um bom primeiro passo para abordar o assunto é refletir sobre o que não se deve subcontratar. A decisão varia de acordo com o perfil da empresa, o volume de obras em andamento e a relevância dos serviços para a estratégia da empresa. Não há, portanto, uma receita pronta a ser seguida.

Um princípio recomendado por alguns construtores e especialistas consiste em resguardar áreas de conhecimento e gestão técnica, reservando a terceirização para trabalhos mais específicos ou de uso de mão de obra mais intensiva.

Seguindo tal lógica, ficariam de fora da subcontratação, principalmente no caso de construtoras, algumas atividades consideradas centrais e estratégicas, tais como: coordenação de projetos | BIM manager | gerenciamento de obras | orçamento | planejamento |compras e suprimentos |administrativo de obras |fiscalização | mestre de obras | qualidade | meio-ambiente e sustentabilidade | assistência técnica | segurança e saúde do trabalho.

2) VANTAGENS DAS EQUIPES PRÓPRIAS

Os benefícios das equipes próprias passam pelo maior controle sobre os profissionais nas obras, pelo nível superior de comprometimento com a empresa, a possibilidade de alocação imediata nas frentes desejadas e a redução dos riscos associados a terceiros. São indicadas, portanto, em atividades consideradas de maior relevância, estratégicas para o negócio.

“O que acontece, em alguns casos, é a construtora passar por um problema grave relacionado a um subcontratado em uma atividade crítica e decidir internalizar o serviço para não correr o risco de repetir aquela experiência ruim”, revela Batlouni.

Por outro lado, o custo direto de contratação de mão-de-obra própria é mais elevado. E, quanto mais específico e complexo for o serviço, maior será a necessidade de gestão de equipamentos maquinários que, provavelmente, terão uso pontual durante o ano, principalmente no caso de pequenas construtoras.

3) CONTRATAÇÃO E VALIDAÇÃO DOS SUBCONTRATADOS

O principal meio de localização de subcontratados pelas construtoras ainda é a indicação pessoal, o chamado ‘boca-a-boca’. A detecção das empresas no mercado costuma ser um trabalho compartilhado entre a direção, as áreas técnicas e de compras.

A partir daí, nas boas empresas, há um processo de pré-qualificação dos fornecedores, geralmente capitaneado pelo pessoal de suprimentos. A checagem de toda a documentação é fundamental nessa etapa.

De acordo com Sheyla Mara Baptista Serra e Luiz Sérgio Franco, no artigo “Diretrizes para gestão dos subempreiteiros”, para o Boletim Técnico da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, podem ser consideradas as seguintes fases para o processo de gestão dos subempreiteiros:

Seleção: planejamento, convocação e análise das ofertas de serviço;

Avaliação: definição dos parâmetros e critérios de análise das ofertas de serviço encaminhadas e do desempenho dos subempreiteiros;

Formalização da contratação: definição de regras e cláusulas a serem seguidas durante a elaboração do contrato entre as partes;

Organização: diretrizes de gerenciamento dos subempreiteiros durante a permanência no canteiro de obras e de avaliação da prestação do serviço de assistência técnica.

4) GESTÃO DOS SUBCONTRATADOS

Após a formalização da contratação do subempreiteiro, é a hora da execução do serviço. O planejamento do processo é fundamental para evitar problemas. De acordo com Sheyla e Franco, as principais etapas de organização do trabalho dos subempreiteiros nos canteiros de obras são:

Aplicação: fase de inserção na obra, ou seja, de mobilização para instalação de equipamentos e materiais, além da integração dos operários;

Execução e controle da qualidade: fase de produção, que deve se orientar conforme procedimentos predeterminados e segundo os parâmetros contratuais;

Medição e avaliação periódica: fase de verificação da quantidade, dos parâmetros de desempenho do serviço executado e dos documentos exigidos por contrato;

Conformidade da programação dos serviços: fase de análise e de replanejamento da execução do serviço, compatibilização da programação com outros subempreiteiros e eventual mão-de-obra própria da construtora;

Avaliação final: julgamento dos parâmetros de desempenho operacional e conferência dos documentos exigidos por contrato para pagamento da última parcela do serviço;

Desmobilização: fase de retirada de equipamentos e das instalações dos subempreiteiros;

Assistência técnica e avaliação dos reparos: prestação de serviço especializado no caso de problemas com patologias. Importante verificar também a eficiência do reparo;

Cadastro dos fornecedores (retroalimentação): armazenamento de dados referentes às diversas avaliações dos subempreiteiros. Informações compiladas podem ser consultadas durante novos processos seletivos.

Vale ressaltar os cuidados a serem tomados principalmente no que se refere à gestão financeira e da documentação trabalhista e previdenciária do fornecedor ao longo do contrato.

5) QUALIDADE, VARIABILIDADE E TERMINALIDADE

Mesmo com todos os controles possíveis – em muitos casos, praticamente assumindo a gestão dos subcontratados – alguns riscos permanecem ativos para as construtoras. A manutenção da qualidade dos subempreiteiros em todos os canteiros, por exemplo, é um desafio constante.

“Não é raro que uma boa empresa, com excelente histórico de serviços prestados, tenha uma variação abrupta de qualidade de uma obra para outra”, afirma Batlouni. “Para que esse tipo de problema venha a ocorrer, basta que uma equipe ainda inexperiente tenha que assumir novas funções por conta de um pico de demanda no mercado”, explica o sócio-diretor da Tecnum.

Outra questão relevante na gestão dos subempreiteiros se refere às interfaces entre os diversos serviços. A visão compartimentada das atividades pelos subcontratados – o famoso “a minha parte eu entreguei” – e os consequentes problemas de terminalidade das tarefas causam reflexos significativos na abertura de novas frentes de trabalho, com impacto no gerenciamento da obra como um todo.

“O planejamento de curto prazo, realizado em conjunto com o subcontratado, como propõe a lean construction, é uma das armas para enfrentar esse tipo de problema”, sugere Cardoso. “Também é essencial manter um sistema de avaliação de fornecedores, com bons indicadores e seriedade na atribuição dos conceitos, sem fazer nada de forma meramente burocrática”, conclui o professor.

6) RESPONSABILIDADE SETORIAL E ENTRAVE PARA A INDUSTRIALIZAÇÃO

A terceirização exige das construtoras critérios e responsabilidades em relação às subcontratadas. Apoiá-las no que se refere à gestão e à conformidade legal, administrativa, técnica e financeira constitui tarefa fundamental.

“É necessária uma ação conjunta de toda a indústria, incluindo aí fabricantes de materiais de construção, incorporadoras, construtoras e o governo, nos moldes do que foi feito no PBPQ-H (Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade no Habitat) para aumentar o nível de capacitação desses prestadores de serviços”, indica o professor da Poli-USP.

De forma esparsa e pontual, a construção civil mantém algumas iniciativas de capacitação para subempreiteiras, o que inclui ações de sindicatos patronais e de trabalhadores, de associações, do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Só que, a despeito da boa vontade e de alguns esforços localizados, é muito pouco para preparar e auxiliar os subcontratados para uma gestão eficiente do próprio negócio, aumentando a segurança jurídica, técnica e econômica dessas relações.

Infelizmente, a falta desse tipo de iniciativa setorial mais organizada e estruturada, em âmbito nacional, deve cobrar um preço, principalmente nas tentativas de aumentar a produtividade ou o grau de industrialização da construção civil como um todo.

Se não foi possível, até hoje, estruturar uma cadeia organizada de prestadores de serviços para um tipo de obra mais convencional, de perfil artesanal, será que o setor será capaz de formar a rede de sistemistas necessária para a construção modular, offsite ou 4.0? O futuro da industrialização passa, necessariamente, por uma nova abordagem setorial para este assunto.

[via https://www.aecweb.com.br/ ]