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Construção avança sobre ciclo de vida de materiais

A avaliação de ciclo de vida (ACV) é uma ferramenta desenvolvida para avaliar quantitativamente e de forma objetiva os impactos ambientais de um produto. O trabalho se estende desde a extração dos recursos naturais para a fabricação, até o momento do descarte do produto. “Todos os processos de produção são mapeados para saber o consumo de material, de combustível, de energia e de água, assim como as emissões de poluentes e a geração de resíduos”, explica a pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), Fernanda Belizario Silva.

Fernanda coordenou um projeto financiado pela Secretaria Suíça para Assuntos Econômicos que resultou na adição de 27 materiais de construção brasileiros no banco de dados da Ecoinvent. A organização promove o uso da análise de ciclo de vida por meio da disseminação de inventários detalhados, com abrangência mundial.

O trabalho focou em materiais de base cimentícia, privilegiando aqueles que têm maior utilização no país e maior impacto ambiental. Ao todo foram analisados sete tipos de cimento brasileiro (incluindo o clínquer), 12 traços de concreto dosado em central, concreto com fibras, além de areia, brita, escória granulada de alto forno, argila calcinada e bloco de concreto.

POR QUE INVESTIR EM ACV?

A análise de ciclo de vida tem múltiplas utilidades. Para os pesquisadores, ela permite ampliar a base científica de conhecimento sobre sistemas produtivos e suas relações com o meio ambiente. O setor governamental também tem a ganhar, ao poder se amparar em resultados de estudos ACV para elaborar e fomentar políticas públicas.

Para a indústria, o estudo de ACV oferece uma oportunidade de ter em mãos informações para subsidiar projetos de aumento de eficiência de processos, reduzir custos e ainda promover o marketing verde. Os dados contidos nos inventários podem, por exemplo, apoiar a elaboração da Declaração Ambiental de Produto (DAP) já exigidas por alguns contratantes internacionais. Além disso, há o impacto positivo para a obtenção de certificações de sustentabilidade de edifícios. “Tanto a versão mais recente do Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), quanto o Selo Aqua-HQE (Alta Qualidade Ambiental) dão pontuação para os empreendimentos que têm declaração ambiental de produto com base na ACV”, comenta Fernanda.

EMISSÕES DE CO2

Os resultados dos inventários realizados nos materiais de construção brasileiros mostram que o cimento nacional apresenta bom desempenho ambiental em relação aos equivalentes de outros países. Eles evidenciaram, também, que o aspecto ambiental mais relevante no caso dos produtos cimentícios é o potencial de aquecimento global. Isso se explica, primeiro, pelas emissões de CO2 decorrentes da queima de combustível fóssil necessário para a fabricação destes produtos. Há, ainda, a liberação de CO2 do próprio cimento por causa da descarbonatação.

Para preservar a confidencialidade das empresas que participaram do estudo, os inventários de ciclo de vida disponibilizados na base Ecoinvent apresentam a média nacional de todos os fabricantes. “Mas podemos dizer que, no caso do cimento, há uma grande variabilidade no impacto ambiental de um fornecedor para outro”, comenta a pesquisadora do IPT. Ela explica que múltiplos fatores contribuem para que isso aconteça, como o percentual de clínquer que é adicionado ao cimento. “Além disso, quando olhamos para o concreto, que carrega o impacto do cimento com ele, os resultados variam em função da dosagem. É possível ter um concreto com a mesma resistência característica com diferenças de emissão de CO2 da ordem de 100 quilos por metro cúbico. Isso significa que se pegarmos um caminhão com 8 m³, podemos ter uma diferença de 800 quilos de CO2 em função da escolha pelo fornecedor A ou B”, explica Fernanda Belizario Silva.

No momento, os pesquisadores do IPT trabalham no desenvolvimento de um método simplificado de análise de ciclo de vida. O objetivo é tornar esse tipo de estudo mais acessível para companhias de diferentes portes. “Os inventários devem ser vistos pelas empresas como uma ferramenta para conhecimento dos impactos ambientais de seus produtos e para incentivar a melhoria de processos. O uso mais nobre deste tipo de estudo seria fazer, a partir do momento em que as empresas medirem seus impactos ambientais, um benchmarking do que é possível com a tecnologia disponível no País para a indústria atingir um patamar viável dos produtos”, conclui a engenheira.

Via AECWeb